sexta-feira, 6 de março de 2009

A Cleusa

Você me participa a sua infância,
nas lágrimas
desse seu passado incompreensível
de geladeira com ovo racionado
por irmãos mais velhos,
doentes,
por irmãos mais novos,
carentes.
Cheirando a leite sem pó,
sabedores de pó sem leito.
O seu sorriso é uma conquista
e o seu medo
o filho da puta de um vírus
invasivo
que lhe escorregou
até o beijo de bocas sem frescor
de sabor, mesmo assim, viciante.
Cuspa longe!
Tão longe quanto a lua cheia,
até encher-lhe o buraco da brancura
e, assim, possa olhar à noite
com irreverência,
por trás
das suas novas lentes minguantes,
vacina de brilho refletante
dessa sua alma criança,
de dormir aconchegado
nas lembranças de menina sonhadora.
Feche os olhos, meu bem,
e pronuncie, com o sal das suas lágrimas:
Quero
e mereço, mesmo,
ser feliz!

São Paulo, a dezesseis de janeiro de 2007

Um comentário:

Luciana disse...

Esta é uma história de seu livro que gostei muito de conhecer e conhecendo-a fez comn que a poesia tivesse um efeito profundo em mim.
Beijos